Zika vírus e Microcefalia: informação e prevenção

A relação entre o surto de Microcefalia e o Zika Vírús, confirmada pelo Ministério da Saúde e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), é o assunto do momento.

Não à toa, as gestantes estão bastante preocupadas. Pernambuco e Sergipe já decretaram Estado de Emergência por conta do número de casos e óbitos, mas todo o Brasil segue em alerta, especialmente as regiões Norte e Nordeste.

“O grande problema é que a situação é nova. Epidemias do Zika Vírus já aconteceram em outras partes do
mundo, mas nunca relacionado à Microcefalia. Estamos estudando, aprendendo e lutando para saber mais, encontrar saídas, alternativas, exames e até tratamentos. A preocupação é enorme. Nesse momento, cabe ao Brasil o papel de saber mais e ‘ensinar o mundo’ a lutar contra esse novo inimigo”, esclarece a Dra. Régia Damous, infectologista do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo (SP).

Conversamos com a especialista para responder algumas das dúvidas que recebemos por e-mail e mensagens. Por se tratar de uma situação nova, algumas questões ainda não tem respostas precisas, mas informação e prevenção seguem como as melhores alternativas.

Confira o bate-papo com a Dra. Régia Damous.

1 – Talvez a principal dúvida seja em relação aos repelentes. Afinal, as gestantes devem usar? Quais são os mais indicados?

Sim! O repelente pode e deve ser usado. O ideal é que a gestante pergunte ao médico a melhor opção para ela, mas a maioria deles pode ser utilizado.

Por conta do Aedes Aegypti (mosquito que transmite a Zika e também a velha conhecida Dengue), tem se falado muito do repelente com base de Icaridina (nome comercial: Exposis). Ele é o mais eficaz contra esse mosquito, tem durabilidade maior, de cerca de 10 horas, e pode ser utilizado por gestantes e também por crianças, já que tem a versão “kids”.

Os repelentes com base de DEET 15% (como Off e Repelex), também podem ser utilizados, mas a ação deles não ultrapassa 6 horas, então é preciso reaplicar mais vezes.

Opções naturais, como óleo de citronela, não são contraindicadas, mas infelizmente a eficácia pode ser um pouco menor. Então, nesse momento de crise, é melhor optar pelos mais fortes.

2 – Existe algum período da gestação em que os perigos oferecidos pelo Zika é maior?

Sim! Prioritariamente no primeiro trimestre. Na verdade, isso não é específico do Zika Vírus, tem relação temporal também com as infecções congenitas de uma maneira geral, pois é nesse período que se dá o desenvolvimento do sistema nervoso central do bebê.

Mas, mais uma vez, por ser uma situação nova, ainda não sabemos se os danos podem ocorrer em fases mais avançadas da gestação, por isso é importante que as futuras mamães permaneçam atentas e cautelosas durante toda a gestação.

 3 – A única forma de transmissão da doença é pela picada do mosquito?

Isso ainda não é 100% garantido. Além da picada do mosquito e da transmissão da gestante infectada para o feto, já foram encontrados traços do vírus no sémem (o que pode indicar a possibilidade de transmissão por relação sexual) e também no leite materno. Transfusões de sangue também estão sendo estudadas como possibilidade.

Em outras secreções, como suor ou saliva, ainda não há evidências positivas ou negativas. Portanto, ainda não se pode afirmar.

4 – Como eu sei se estou ou fui infectada? Existe algum exame específico para o Zika Virus?

Sim. O exame PCR (sigla em inglês que significa reação em cadeia de polimerase), feito através de uma amostra de sangue, identifica a presença do Zika Vírus, mas somente no período em que ele está ativo no organismo. Normalmente entre o 1º e 5º dias de infeção.

Ainda não existe um exame de sorologia que identifique se a pessoa já foi infectada em algum momento. Especialistas estão trabalhando para desenvolver essa sorologia o quanto antes.

 5 – E como saber? Quais são os sintomas do Zika?

Esse é um dos principais problemas. Somente 18% das pessoas infectadas apresentam sintomas. Entre eles estão febre, manchas vermelhas na pele, vermelhidão nos olhos e dor de cabeça. Nada muito severo, por isso, o Zika pode ser facilmente confundido com outras infecções exantemáticas ( grupo de doenças infecciosas sistêmicas), entre elas chikungunya e dengue.

Além disso, na grande maioria das vezes, a infecção pelo Zika é assintomática.

 6 – Se não existe um exame específico para saber se em algum momento a infecção aconteceu e isso pode ter ocorrido de forma assintomática, então eu posso ter sido infectada e não saber?

Infelizmente, sim.

7 – A microcefalia, ou qualquer dano ao feto, acontecem somente quando a mulher é infectada durante a gestação? Se a mulher teve o Zika antes de engravidar, o bebê corre algum risco?

Quando a infecção acontece durante a gestação, o risco parece ser bem grande, mas ainda não podemos afirmar um número ou porcentagem precisos.

Além disso, ainda não se sabe exatamente o tempo que o vírus permanece vivo no organismo. Então, não se pode garantir que uma mulher infectada antes da gravidez oferece, ou não, riscos para o bebê.

8 – Então podemos dizer que engravidar nesse momento pode ser arriscado? Mulheres que estão tentando engravidar devem adiar os planos?

Sabemos que uma gravidez envolve muitas coisas e até sentimentos, mas nesse momento, prevenção e cautela são bons conselhos. Se for possível adiar, eu recomendaria que sim.

Afinal, já que estamos falando de uma gestação programada, correr risco para quê?

O ponto não é somente o que o vírus pode causar em si, mas também em relação às incertezas.

Ainda sabemos pouco sobre o que o Zika pode causar exatamente em relação à malformações.

9 – Se uma grávida descobrir que foi infectada pelo Zika, existe algo que possa ser feito para evitar danos neurológicos ao bebê?

Infelizmente, não. Nesse momento, só será preciso acompanhar o desenvolvimento da doença e do feto para então buscar alternativas, soluções e possíveis tratamentos.

Acredito que em breve isso seja possível, assim como é com a toxoplasmose, quando o tratamento é feito na mulher gestante e até no feto, quando necessário, diminuindo os riscos e sequelas.

 10 – Além dos repelentes, algo mais pode ser feito?

As orientações do Ministério da Saúde incluem, além dos repelentes, o uso de roupas compridas para cobrir braços e pernas, instalação de telas protetoras em portas e janelas para evitar que os mosquitos entrem em casa e, claro, combate aos “criadouros” do Aedes Aegypti (evitar água parada em vasos de plantas, garrafas e pneus, tampar a caixa d’água, etc.).

Além disso, para as gestantes eu incluiria evitar ao máximo visitar locais onde existe epidemia. Por conta das incertezas relacionadas à transmissão, evitar contato com pessoas doentes e aglomerações em geral também é bastante importante.

 gravidez-aos-5011 – Estamos próximos do período de férias. Viagens de gestantes para Nordeste e Norte do Brasil (locais onde a epidemia já foi constatada!), não são recomendadas?

Mais uma vez, sabemos que uma viagem pode ter mil coisas envolvidas, mas se existir a possibilidade de adiamento, minha recomendação é que isso seja feito.

Especialmente se estivermos falando de uma gestação de primeiro ou segundo trimestre ou de áreas em que a epidemia já tenha sido constatada.

 12 – Ouvi dizer que ingerir vitamina do complexo B é bom para afastar os mosquitos. Isso é verdade?

Existem estudos que indicam que, ao ingerir uma alta dose de vitamina do complexo B, a pele passa a expelir um “cheiro” que afasta qualquer tipo de mosquito. Mas não há comprovação de eficácia 100% ou da dosagem exata. Especialmente no caso das gestantes, isso não deve ser o foco principal da prevenção. Mesmo que você tome a vitamina (somente por indicação médica, ok?), não deixe de utilizar o repelente!

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*Imagens Divulgação

FONTE: Site Mamãe do Ano

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