Quando estava na faculdade de Educação Física, fiz um artigo para a matéria de desenvolvimento infantil e sempre gostei dessa área. Hoje compartilho com vocês esse artigo.... as palavras podem estar um pouco mais acadêmicas, mas acho legal nós (mães, pais, avós, tias, etc) o que se passa em cada fase dos nossos pequenos!
A primeira infância, fase do desenvolvimento que abrange entre 0 e 6 anos de idade, tem sido cada vez mais abordada e debatida por conhecedores de distintas áreas como psicólogos, sociólogos, e entre outros que adentraram num amplo consenso quanto ao desenvolvimento da primeira infância. Defendem essa fase, como primordial, na qual a criança arquitetará uma base que a favorecerá por toda a existência, (UNESCO, 2007).
Com base nos escritos dos referidos autores que grandes personalidades de abordagem corporal como Reich, Lowen, Baker e Navarro em nosso próprio conhecimento e experiência, que organizamos na seqüência, as etapas do desenvolvimento, ( REICH 1995, LOWEN 1982, BAKER 1980, NAVARRO 1995).
De acordo com Leloup; as etapas representam período de passagem que levam ao agrupamento de experiências vividas. Cada etapa é marcada por acontecimentos particulares que desde o início trazem consigo, na bagagem genética da célula, valores biofisiológicos, emocionais, afetuosos e intelectuais. E são esses valores que serão impressos para todas as demais células do corpo durante todo o processo de desenvolvimento e que, aos poucos, irão sendo acrescidos das experiências que a criança vivenciar. O corpo armazena todos os fatos vividos durante a vida, sobretudo aqueles acontecidos na primeira infância, quando as formas que acham para se defender ainda são hipotéticas. Esses episódios, quando estressantes e traumáticos, muitas vezes deixam no corpo marcas profundas e irreversíveis, (LELOUP 1998).
- ETAPA DE SUSTENTAÇÃO
É a primeira etapa do desenvolvimento que tem seu início na fecundação e se distende durante todo o tempo de aleitamento materno, ou seja, até o nono mês de vida. O útero é o primeiro recinto em que se localiza o bebê durante seu desenvolvimento físico, energético e emocional, onde a relação se dá com a mãe por meio de suas paredes e do cordão umbilical, que irá alimentar e manter o bebê não apenas de forma fisiológica, mas também emocional e energética para que possa prosseguir sendo gerado. É um contato não exclusivamente corpóreo, mas também de energia e afeto entre a mãe e o bebê em concepção.
É importante destacar que o nível de energia do embrião será determinado pelo nível de energia do útero da mãe, (REICH, 1987). Durante essa primeira etapa, o bebê atravessa três fases: segmentação, embrionária e fetal.
a) Fase de segmentação É a partir da fecundação que ocorre o princípio da concepção da vida. Assim sendo, essa primeira fase tem começo na ocasião da concepção e se estende até o período em que ocorre a sustentação, momento em que, na fase de blástula, o embrião fixa-se no endométrio (nidação), é fixação do zigoto nas paredes uterinas, por volta do quinto ao sétimo dia de gravidez. Nessa fase, ocorre a divisão do zigoto em várias outras células, sendo cada uma delas chamada blastômero.
b) Fase embrionária A partir do momento em que ocorreu a nidação do zigoto nas paredes do útero, o bebê entra na segunda fase, que se estende até o final do segundo mês de gestação. Nessa fase há uma predominância biológica endócrina, na qual a célula prossegue a se multiplicar para formar o embrião e continua consumindo muita energia (ATP) que ainda é autógena, (da própria célula), mas que com a formação do cordão umbilical, que sustenta o embrião nas paredes do útero da mãe, vai se organizando para passar a ser trofoumbilical. Mesmo que não ocorra o aborto ou a alteração do DNA, esses registros de estresse ficarão armazenados na memória, resultando posteriormente na possibilidade de gerar sérios comprometimentos de ordem física, energética e/ou emocional (NAVARRO, 1996).
c) Fase fetal Essa fase tem início no terceiro mês de gestação e se estende até nascimento, mais especificamente até o décimo primeiro dia de vida. Em temos energéticos, como a placenta já se formou, a energia que o bebê recebe vem da própria mãe, através do cordão umbilical. É também a fase em que se pode presenciar a formação do cérebro e do sistema neurovegetativo. Para Piontelli; existem várias situações, decorrentes do estresse sofrido pela mãe e/ou pela criança que podem comprometer a sustentação e o desenvolvimento do bebê nessa primeira etapa do desenvolvimento. Isso não significa, porém, que todas as crianças que passam pelas mesmas situações terão os mesmos comprometimentos, porque tudo irá depender da etapa em que ocorreu o estresse, da sua intensidade, da freqüência e outros fatores. Da mesma forma que cada criança tem também um funcionamento fisiológico próprio, e uma resistência ao estresse que é particular, só dela.
Há pouco tempo também se descobriu a existência de um pequeno órgão oro-nasal chamado de órgão de Jacobson que, no homem, desaparece logo após o nascimento. O nome jacobson neste caso se refere ao pesquisador dinamarquês ludwig levin jacobson. Esse órgão, no ventre materno, tem a função de perceber o sabor do ambiente líquido, geralmente alterado pela liberação de endorfinas pela mãe que, estando na corrente sangüínea, chegam até o liquido amniótico alterando o sabor do mesmo. Daí pode-se deduzir o que é percebido pelo feto quando uma mãe agitada, ansiosa e estressada descarrega em sua corrente sangüínea os hormônios com sabor desagradável. Isso nos mostra a importância de uma gravidez em estado de bem-estar, (JACOBSON, 1783-1843).
A presença do pai durante a gestação também é fundamental, uma vez que o afeto que ele demonstra, por intermédio da mãe, também chega até o bebê em formação. Se nenhum tipo de dano severo ocorrer durante a gestação, o recém-nascido trará consigo “um sistema energético enormemente produtivo e adaptável que, por seus próprios recursos fará contato com seu meio ambiente e começará a dar forma a este meio ambiente de acordo com suas necessidades”, (REICH, 1987, p. 30) e será capaz de demonstrar toda a riqueza da plasticidade e do desenvolvimento natural.
- ETAPA DE INCORPORAÇÃO
Esta etapa tem início logo após o nascimento e finda com o desmame, que deverá acontecer por volta do nono mês de vida, quando o bebê já tem dentes auto-suficientes para fragmentar sua própria alimentação. Nessa etapa, o bebê repudia o útero para se ligar ao seio da mãe, introjetando tudo o que vier do mundo externo, iniciando pelo bico do seio ereto e disponível, experimentando o paladar delicioso do leite, pelo perfume da mãe, pela disponibilidade da mãe em amamentá-lo, pelos olhos vigilantes e receptivos, pelas mãos calorosas e afáveis e pelo contato epidérmico que envolve o bebê, da mesma forma que ele foi envolvido pelo útero. Não devemos esquecer que “a pele é a ponte sensível do contato com o mundo...
É o nosso órgão mais extenso, é o nosso código mais intenso, um lar de profundas memórias” (LELOUP, 1998). É significante assinalar que uma mãe agitada e apreensiva descarrega na corrente sanguínea a bile, líquida presente na vesícula biliar, que chega até o leite deixando-o com um sabor amargo. É por isso que muitas crianças não querem ser amamentadas ao seio. É também importante saber que até o nono ou décimo dia de vida, o bebê não produz lágrimas. Como os olhos eram lubrificados pelo líquido amniótico, o bebê precisa agora de um tempo para que suas glândulas lacrimais possam entrar em funcionamento. Deste modo, é preciso evitar que ele chore de forma estressante nesse período, para que não ocorra um ressecamento dos olhos e um posterior comprometimento da visão. O astigmatismo, por exemplo, decorre de um estresse nessa fase do desenvolvimento.
O bebê é apto para regular sua própria fome, demonstrando-a por meio da choradeira, balbucios e agitação. Isso exprime que não se deve intervir nessa agitação. É o bebê quem sabe o momento que está com fome e não nós, com nossa psicose de impor hora pra tudo. Limites são importantes, mas têm seu tempo para serem aprendidos e vivenciados. Implica então, que o organismo da criança possa por si mesmo manifestar-se de acordo com as suas próprias necessidades.
- ETAPA DE PRODUÇÃO
A etapa de produção se inicia com o desmame e se estende até o final do terceiro ano de vida ou para algumas crianças, pode até mesmo advir um pouco antes. Nessa fase, a vigor da criança está diretamente volvida à construção de pensamentos, de gestos, de brincadeiras, de jogos, de relacionamentos, etc. Sobrevém o desenvolvimento da autoconsciência, o que lhe permite desenvolver a habilidade de adiantar os eventos, como, por exemplo, não se sentir desamparada pelos pais quando eles saem, porque sabe que eles irão voltar. É também nessa etapa que a criança imita os pais em busca de modelos.
É curiosa e busca desvendar tudo o que está à sua volta, rejeitando ser ajudada. É importante tomar cuidado com as inquietações excessivas, sobretudo com a ordem e/ou higiene e procurar não exigir que a criança reprima suas necessidades fisiológicas de xixi e cocô antes de completar 18 meses. Ela deve ser ensinada gradativamente.
Segundo Wallon, o estágio impulsivo emocional inicia no primeiro ano de vida e está ligado fortemente à emoção e a afetividade com as pessoas e a interação com o meio. Afirma também que o estágio sensório-motor, que se estende até o terceiro ano, se volta para exploração sensória motora do mundo físico, (WALLON 1994). A frustração e o receio do castigo nessa etapa bloqueiam a espontaneidade da criança, deixa-a numa posição de submissão ao genitor que a frustra e limita às rotinas cotidianas. Outra característica dessa etapa é a evolução do brincar simples e repetitivo para brincá-lo construtivo.
A criança demonstra interesse pelos jogos imaginativos e mais tarde, o interesse se volta para os jogos mais formais, com regras. É comum o surgimento de amigos imaginários, principalmente em primogênitos e filhos únicos. Mas isso não é motivo de preocupação porque a criança também já é capaz de distinguir a fantasia da realidade.
- ETAPA DE IDENTIFICAÇÃO
É a partir do quarto ano de vida que se inicia a etapa que a criança está hábil a fazer identificações. Esta etapa se estende até o final do quinto ano de vida. É a etapa em que a energia volta-se para a descoberta dos genitais e a criança passa a distinguir a diferença entre menino e menina e a ter um conceito seguro quanto ao sexo que pertence. É aí que brotam as primeiras interrogações sobre o tamanho dos genitais e pêlos dos pais e sobre o sexo dos animais, ao mesmo período em que a criança tem curiosidade para ver tudo o que a isso diz respeito. Acontecem as primeiras masturbações, mas como mera esfregação do genital, sem nenhum intuito ou fantasia, o que deve ser encarado com naturalidade e sem punições.
Nessa etapa, a criança também passa por momentos de individualidade. Quer brincar sozinha, não quer mais ficar no colo dos pais, quer desmontar os brinquedos para montar de outra forma, etc. Aos poucos, aprende a compartilhar, saindo do campo familiar e voltando-se cada vez mais para o campo social. Mais tarde, na próxima etapa, a criança irá realizar a chamada constância ou conservação de gênero, ou seja, passa a ter consciência de que seu sexo será sempre o mesmo e, depois disso, assumir seu papel sexual.
- ETAPA DE ESTRUTURAÇÃO E FORMAÇÃO DO CARÁTER
Essa etapa tem início aos cinco anos de vida e se estende durante toda a puberdade, até o início da adolescência. É a etapa em que a formação da estrutura básica de caráter se completa. O desenvolvimento neste período depende das oportunidades que lhes forem oferecidas, aonde o indivíduo vai se constituindo como ser humano, portanto, é imprescindível valorizar todos os estímulos possíveis, inclusive o motor para que as crianças construam tais habilidades desde os primeiros meses de vida e que serão fundamentais para um crescimento saudável.
Segundo Piaget; o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo). Resulta justamente das ações e interação do sujeito com o ambiente onde vive para ele o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborados desde a infância através de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, seja eles do mundo físico ou cultural, (PIAGET, 1971).
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