No Brasil, estima-se que aproximadamente 66 mil mulheres serão diagnosticadas com a doença em 2021
Todos os anos, campanhas de conscientização sobre o câncer de mama são realizadas no Brasil, a fim de trazer mais conhecimento e incentivar a mulher a procurar o diagnóstico precoce. Em 2020, segundo o INCA, foram diagnosticados aproximadamente 2,3 milhões de casos novos de câncer de mama no mundo. Porém com o covid-19, infelizmente, muitas pessoas deixaram os exames de rotina de lado, postergando até mesmo tratamentos e o check-up anual.
A ginecologista e obstetra Dra. Laura Penteado, obstetra e ginecologista e diretora médica da Theia – clínica de saúde centrada na mulher gestante, esclarece as principais dúvidas levantadas por muitas pacientes, como a melhor hora de buscar a prevenção, idade inicial, fatores de risco e novos tratamentos para sobrevida e qualidade de vida.
Qual a melhor prevenção para este tipo de câncer? Existem vários estágios?
Existe a prevenção primária, ou seja, reduzir os riscos de surgimento da doença; a qual está muito correlacionada com os fatores hormonais da mulher. Ter filhos, amamentar, não usar anticoncepcional hormonal, não realizar terapia de reposição hormonal são fatores protetores para as mulheres. Há também o que chamamos de prevenção secundária, ou seja, exames de rastreamento para detecção precoce da doença. O câncer de mama apresenta vários estágios da doença, que variam desde tumor inicial microscópico, tumores acometendo toda a mama, e tumores que invadem outros órgãos, como tecido linfático, fígado, pulmão e ossos.
Quando a doença é identificada inicialmente, quais as chances de cura?
Sim, se diagnosticado precocemente, o câncer de mama apresenta uma alta taxa de cura (>90% em 5 anos).
Quais outros exames de detecção, mais atuais, além da mamografia? Ele é o mais indicado?
A mamografia é o exame mais indicado para o rastreamento do câncer de mama da população geral. Atualmente, com os avanços da tecnologia, alguns centros oferecem a tomossíntese mamária, um exame 3D que apresenta maior sensibilidade e deve ser realizado em conjunto com a mamografia (exame 2D) sempre que possível. Para as mulheres que apresentam alto risco para a doença, também se realiza a ressonância magnética das mamas como exame de rotina. O ultrassom é indicado como rastreamento somente em alguns casos específicos, como o de mamas muito densas.
Qual idade é recomendada para iniciar os exames de rastreamento?
A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a realização de mamografia anual para todas as mulheres acima de 40 anos.
Histórico familiar pesa na decisão de começar a prevenção precocemente? Justificar.
Alto risco para câncer de mama:
Dois ou mais parentes de primeiro grau (pais, irmãs ou filhas) ou de segundo grau (neta, avó, tia, sobrinha, meio-irmão) com câncer de mama e/ou de ovário
Câncer de mama antes dos 50 anos (pré-menopausa) em um parente de primeiro grau
História familiar de câncer de mama e de ovário
Um ou mais parentes com dois tumores (de mama e de ovário ou dois tumores mamários independentes)
Parentes do sexo masculino com câncer de mama
Mulheres com histórico familiar de câncer de mama são consideradas pacientes de alto risco para desenvolver o tumor e por isso necessitam de um acompanhamento e de uma investigação mais detalhada. Recomenda-se que essa mulher realize ressonância magnética anual após os 25 anos, e mamografia após os 30 anos. Geralmente, em famílias com mutações genéticas que favorecem o aparecimento do câncer de mama (por exemplo, mutação BRCA 1 e 2) o tumor tende a surgir em idade mais precoce do que nas gerações anteriores.
Temos novos tratamentos que aumentam a sobrevida do paciente?
Com evolução da tecnologia e de exames de maior precisão para classificação dos subtipos tumorais do câncer de mama, os tratamentos avançaram da quimioterapia, para:
• Terapias-alvo (tratamento focado em um marcador específico do tumor): terapias com bloqueadores da proteína HER2
• Imunoterapia: drogas que otimizam a resposta imunológica da paciente e favorecem a destruição de células tumorais
Contudo, esses novos medicamentos apresentam alto custo e ainda não estão disponíveis no SUS.10 sugestões para planejar a gravidez na pandemia: o que as mulheres precisam saber, fazer e como se preparar?
Alimentação saudável e mudanças de hábitos podem retardar ou mesmo evitar o tumor?
A ingesta de bebida alcoólica, o sobrepeso e a obesidade, o sedentarismo e a exposição à radiação ionizante são fatores correlacionados a aumento de taxas da doença. Assim, reduzir a ingestão de álcool, praticar atividade física e ter uma alimentação saudável para manter-se em um IMC (índice de massa corpórea) adequado são hábitos recomendados para evitar a doença.
Qual o tempo indicado para o acompanhamento?
Após o tratamento do câncer de mama, recomenda-se que a mulher faça um seguimento a cada seis meses com mastologista, por pelo menos cinco anos.
Quais os sintomas típicos que indicam que algo não está bem?
- Alterações no formato da mama: abaulamentos, inversão do mamilo, retração de pele
- Saída de secreção transparente ou com sangue pelo mamilo (secreções amareladas, esverdeadas ou amarronzadas tendem a ser benignas)
- Qualquer alteração notada de diferente na palpação / autoexame das mamas: nódulos, áreas endurecidas
Uma vez diagnosticado, quais os tipos de tratamentos iniciais, e de quanto em quanto tempo a mulher precisa fazer o acompanhamento?
O tratamento do câncer de mama apresenta diversas etapas, o objetivo é destruir o tumor atual, evitar que células tumorais se espalhem para outros órgãos e reduzir as chances de o tumor voltar no futuro. O tratamento inicia-se pela quimioterapia ou pela cirurgia; algumas características tumorais irão guiar o mastologista nessa decisão.
A mulher que teve e passou pelo tratamento, pode amamentar?
Mulheres que trataram o câncer de mama podem amamentar. A quimioterapia e a radioterapia realizadas previamente não interferem na produção e na qualidade do leite. Contudo, mulheres que fizeram a retirada completa das 2 glândulas mamárias não produziram leite para a nutrição do recém-nascido, mas pode-se utilizar a translactação para promover o vínculo mãe-bebê.
Com a pandemia, muitos casos deixaram de ser descobertos. Que recomendação gostaria de deixar?
Devido a pandemia, muitas mulheres deixaram de realizar exames de rotina e postergaram consultas e exames. O que leva, às vezes, a diagnósticos de tumores em estágios mais avançados. A recomendação é que todas as mulheres, acima de 40 anos, procurem uma mastologista e realizem os exames de rotina.
*Dra. Laura Penteado é obstetra e ginecologista e diretora médica da Theia – clínica de saúde centrada na mulher gestante. Tem residência pelo Hospital das Clínicas da FMUSP e mastologista pelo Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP). Atua como médica obstetra nos principais hospitais e maternidades de São Paulo.
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