Prevenir obesidade na infância é a maneira mais segura de controlar essa doença
crônica grave, que pode se iniciar desde a vida intrauterina até a adolescência. A importância
da prevenção na infância decorre da associação da obesidade com doenças
crônicas do adulto, que podem surgir já na infância.
A fase intrauterina é um período crítico para o desenvolvimento da obesidade,
assim como o primeiro ano de vida e a adolescência. Assim destaca-se a importância
da participação ativa do pediatra nas diversas fases da vida, nos diferentes contextos.
O Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria
produziu dois guias de conduta, de grande importância na prevenção de distúrbios
nutricionais como a obesidade, visando a atualização dos profissionais de saúde no
que se refere a hábitos alimentares e estilo de vida saudáveis.
Pré-natal
• Identificar os fatores de risco familiares: diabetes mellitus, doenças cardiovasculares,
hipertensão arterial, dislipidemias, tabagismo e determinados tipos de
câncer, entre outros fatores.
• Avaliar e monitorizar o estado nutricional da gestante.
• Orientar sobre a alimentação adequada da gestante e estilo de vida, evitando o
sedentarismo.
• Prevenir o nascimento de RN prematuros ou de baixo peso.
Puericultura
• Avaliar e monitorar o peso e a estatura da criança, calculando o Índice de Massa
Corporal (IMC), preenchendo adequadamente as curvas existentes na Caderneta
de Saúde da criança ou do adolescente e reconhecendo de maneira segura o risco
de obesidade e quando devemos intervir.
• Estimular o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida e o aleitamento
materno complementado até os 2 anos de vida ou mais, se estiver sendo
nutricionalmente eficiente.
• Caso não seja possível o leite materno, indicar uma fórmula infantil com quantidade
de proteína reduzida.
• Informar os pais sobre a atenção e o respeito aos sinais de saciedade do lactente,
como parar de mamar, fechar a boca, desviar a face, brincar e/ou morder o
mamilo ou dormir.
• Educar os pais quanto ao reconhecimento e à aceitação da saciedade da criança
maior sem forçar nem exigir a ingestão total ou excessiva de alimentos. Não
se deve forçar uma ingestão, pois a criança saudável tem plena capacidade de
autorregular sua ingestão.
• Ensinar os pais a identificar os diferentes tipos de choro (nem sempre choro
significa fome).
• Orientar sobre a alimentação complementar de acordo com as necessidades
nutricionais e o desenvolvimento da criança. Também é importante ressaltar a
importância da qualidade da alimentação (por exemplo, estimular o consumo
regular de frutas, verduras e legumes e estar atento ao tipo de gordura consumida).
• Levar em conta a história familiar de doenças crônicas como obesidade e doenças
cardiovasculares para melhor conduzir a orientação nutricional. A introdução
de novos alimentos deve seguir o que recomenda o Manual de Orientação do DC
de Nutrologia da SBP.
• Esclarecer os pais sobre a importância da educação alimentar aos seus fi lhos,
como: estabelecer e fazê-los cumprir os horários das refeições (colocando limites); não pular refeições nem substituí-las por lanches (deve haver um intervalo
regular entre elas); dar orientações sobre mastigar bem os alimentos; realizar
as refeições em ambiente calmo e com a televisão desligada; evitar o consumo
de alimentos de elevada densidade calórica como salgadinhos, doces, frituras e
refrigerantes. Os pais atuam como modelos para as crianças, especialmente para
as pequenas, que tendem a imitá-los; por isso os hábitos alimentares saudáveis
precisam ser adotados por toda a família.
• Informar sobre a evolução normal do comportamento alimentar da criança, a fi m
de evitar o desencadeamento de distúrbios do apetite gerados pela insegurança
ou desinformação dos pais.
• Estimular e orientar o lazer ativo de acordo com as diversas faixas etárias, respeitando
as preferências da criança e do adolescente:
– Lactentes: estimular atividades práxicas, como rolar, engatinhar, andar.
– Pré-escolares: passeios ao ar livre, andar de bicicleta, jogar bola, correr, brincar
com o cachorro, pular corda.
– Escolares e adolescentes: recreação, esportes em geral e atividade física programada,
incluindo atividade de força e resistência muscular.
• Limitar o tempo de lazer passivo a no máximo duas horas por dia, controlando
os horários de TV, computador e videogame.
Família
• Orientar toda a família sobre os hábitos alimentares; verificar desvios na dinâmica familiar capazes de influenciar o comportamento alimentar da criança;
avaliar, com a participação da família, a quantidade e o tipo de alimentos que
são rotineiramente adquiridos (perfil da compra).
• Abordar questões relativas ao vínculo mãe-fi lho (vide Fisiopatologia).
• Estimular a adesão dos pais ao estilo de vida ativo.
Além da participação da família e da escola, é necessário o envolvimento das sociedades
científicas (divulgar os trabalhos científicos que mostrem os benefícios de uma
alimentação adequada e da prática de atividade física), da mídia (evitar propaganda de
alimentos não nutritivos nos horários de programação infantil na TV; promover estilo
de vida saudável), da indústria alimentícia (produzir alimentos com menor conteúdo
de gordura total, saturada, sal e açúcar; fornecer melhores informações nos rótulos dos
produtos alimentícios) e dos órgãos governamentais (criar, obrigatoriamente, nas áreas
urbanas centros recreativos e parques com maior segurança e maior espaço para pedestres;
estimular o transporte ativo com ciclovias seguras; controlar melhor os rótulos dos
alimentos e os subsídios para produtos com baixa densidade energética). A prevenção
da obesidade é mais barata e mais eficiente do que o tratamento de suas morbidades.
FONTE: SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA
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