Psicóloga explica que mulheres sentem vergonha de contar aos parceiros que estão com
desconforto intestinal para evitar a relação sexual
“Hoje não, estou com dor de cabeça” é uma frase popularmente conhecida por ser o artifício das
mulheres para evitar a relação sexual com seus parceiros. Mas, nem sempre esse é o real motivo
para fugir desse assunto. O desconforto intestinal, que gera inchaço, gases e cólicas, muitas vezes é
o vilão que impede as mulheres de terem uma vida sexual ativa e plena.
O estudo SIM Brasil, conduzido em 2012 pela Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG),
avaliou 3.029 mulheres, em 10 cidades brasileiras, e constatou que 79% das entrevistadas que
declararam ter problemas de trânsito intestinal tinham suas vidas sexuais impactadas pelo
desconforto.
A psicóloga terapeuta de casais, Pamela Magalhães, explica que a situação é bastante comum entre
o público feminino e afirma, ainda, que a mulher precisa lidar com dois tabus ao mesmo tempo.
“Lutamos muito para conseguir conversar sobre sexo, mas ainda assim temos que nos preocupar
com o momento certo para falar sobre o assunto. Dificilmente, a mulher pode revelar no primeiro
encontro as suas preferências sexuais. Ainda há um machismo enraizado e o mesmo acontece
quando a questão é falar sobre o intestino. Não dá para dizer que está constipada, pelo contrário,
antes de tudo é preciso sentir se o ambiente é aberto para a conversa e, se o outro vai suportar e
encarar o tema numa boa”, comenta.
A vergonha de falar sobre saúde intestinal ainda é a principal barreira. Mas, para a psicóloga, é
possível quebrar o tabu e tornar o assunto mais comum no dia a dia dos casais. Ela afirma que
existem níveis de constrangimento, por isso, se desde o início, o casal conversar com tranquilidade
sobre o tema, é possível reverter. “No princípio é possível dialogar quando estiver com uma
dorzinha, quando não estiver se sentindo bem. É legal dividir, para acabar com o preconceito de
não comentar sobre isso”, orienta.
Pamela destaca que para uma mulher viver sua sexualidade de maneira saudável, ela precisa ter
muita autoconfiança, estar “inteira” no momento da relação sexual e acreditar em si no momento
do sexo. As mulheres têm que estar bem com elas mesmas para que consigam ter uma boa
performance. E, para a terapeuta, isso não tem relação com ter um corpo considerado atraente
para o parceiro. A mulher precisa estar com a autoestima em alta e feliz com ela mesma.
“Quando a mulher está com um problema de se gostar, a mudança de comportamento deve ser
de dentro para fora e não de fora para dentro. As conquistas para a plenitude têm que partir de
dentro, devem ser de cada um, tem que ter autoconhecimento”, explica Pamela.
Mulheres bonitas não vão ao banheiro
A associação entre rejeição e intestino é um dos fatores que também atuam no psicológico da
mulher. Existe uma correlação muito grande como algo que pode ser considerado sujo. A psicóloga
exemplifica: “se o casal está em um momento íntimo, e a mulher sente vontade de ir ao banheiro,
pode existir o medo do parceiro sentir o cheiro ou ouvir algo, que pode quebrar o encanto do
momento. Isso faz com que ela crie a ideia de que não precisa ir ao banheiro”.
Pamela defende uma transformação de paradigma: ainda está intrínseco na maioria da população
que mulheres bonitas não usam o banheiro, porque falar de saúde intestinal não é charmoso.
“Quando a mulher deixa de entender o intestino como parte importante do seu corpo e soma isso à
vergonha de expressar-se sobre o assunto, caso ela não tenha desejo de ter relações sexuais, nunca
vai dizer que o motivo é estar constipada. Vai recorrer à velha desculpa que está com dor de cabeça
para não ser rejeitada. É necessário trabalhar para tornar o tema algo palpável”, reforça Pamela.
Falta de libido
O desejo sexual está diretamente relacionado com o quanto a mulher está de bem com ela.
Segundo a psicóloga, as mulheres dizem que não têm libido pelo parceiro, mas elas não olham para
si. E explica que essa insatisfação pessoal pode desencadear uma patologia intestinal que, quando
não é tratada de forma apropriada, pode afetar a libido.
“Quando a mulher não enfrenta o sintoma, isso pode comprometer as investidas sexuais e, cada
vez mais, a libido diminui - quando a necessidade é ser estimulada. Se a mulher não comenta
sobre o assunto com o parceiro, o problema é ainda maior porque ela não se abre sobre a vida
sexual, e muito menos a questão intestinal. As consequências são deixar de se cuidar, de ter suas
prioridades, afundar e achar que o casamento é ruim”, alerta.
Por outro lado, o intestino fora do ritmo atua como uma forma de defesa do corpo. Algumas vezes,
a mulher sente dificuldade de se relacionar com o parceiro, por exemplo, porque ele a traiu, mas
decide ignorar o sentimento para manter o relacionamento.
“Quando isso acontece, o corpo através da produção de sintomas está a ajudando, sendo fiel aos
sentimentos. Talvez, racionalmente, exista raiva, mas como costumo dizer, aquilo que a mente não
elabora, o corpo aflora. É preciso procurar ajuda do médico especialista e/ou terapeuta, melhorar
a alimentação, praticar atividades físicas porque, por mais que seja um mecanismo de defesa, o
problema é muito sério”, finaliza.
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